Mulher trans consegue na Justiça direito de colocar silicone pelo plano de saúde: 'Espelho agora é meu melhor amigo'

  • 08/11/2025
(Foto: Reprodução)
Mulher trans consegue na Justiça direito de colocar silicone pelo plano de saúde Um reconhecimento ao se olhar no espelho que demorou quase dois anos, cinco cirurgiões e uma batalha judicial para acontecer. A gestora de recursos humanos Leona Catalina, mulher trans, conseguiu na Justiça o direito de colocar próteses de silicone nos seios pelo plano de saúde. A operação, feita no dia 31 de outubro, marcou o início de uma nova fase e representou para Leona o reconhecimento de sua própria identidade. ✅ Receba no WhatsApp as notícias do g1 PE "O espelho agora é meu melhor amigo. Aquela coisa de você olhar e dizer: 'essa sou eu'. Estou reconhecendo quem sou de verdade e estou cada vez mais perto da mulher que eu sei que sou", contou, em entrevista ao g1. O procedimento, celebrado como uma conquista, foi resultado de uma longa jornada. Credenciada ao plano de saúde Hapvida, Leona descobriu no Instagram a possibilidade de realizar cirurgias do processo transexualizador pelo convênio. A descoberta veio por meio de uma publicação no perfil "Bicha da Justiça", que oferece consultoria jurídica especializada em direitos LGBTQIA+. Nos relatos lidos por Leona, mulheres em São Paulo já haviam conseguido o mesmo direito, o que a animou a ir em busca da própria cirurgia. "Quando eu descobri isso, eu fiz: 'pera aí, se em São Paulo pode um plano de saúde [custear a cirurgia], aqui eu também posso conseguir'. De repente, algumas não conseguiram porque não é comum uma mulher trans ter um plano de saúde. A gente sabe que plano de saúde é caro. Tem mulheres que não têm nem moradia, porque são colocadas para fora de casa. Minha família, graças a Deus, me aceitou. Então, para uma trans, ter um plano de saúde também é uma vitória", disse. Mesmo com o direito às cirurgias transexualizadoras, o plano negou o procedimento sem justificativa. Na Justiça, Leona descobriu que os advogados alegavam que se tratava de simples "questão de estética". Jornada até a cirurgia Com o plano ativo e mais de um ano de carência cumprido, Leona marcou a primeira consulta com um cirurgião plástico. Segundo ela, demorou mais de mês para conseguir vaga com o especialista, mas, ao chegar ao consultório, foi surpreendida ao descobrir que o médico estava se descredenciando do plano. A expectativa se transformou em mais uma espera. “Quando entrei na sala, ele perguntou ‘qual sua situação?’. Eu disse ‘sou uma mulher trans e vim em busca de informações para de cirurgias do processo transsexualizador'. Ele me respondeu 'ah, estou me desligando do Hapvida. Hoje é meu último dia e não tem como te dar essa informação’. Fui lá toda esperançosa e, quando eu chego, não pode me dar nenhuma informação", contou. Uma nova consulta foi marcada, desta vez com uma médica. Durante a avaliação, Leona foi informada que, mesmo com as carências gerais cumpridas, para a cirurgia de prótese mamária o prazo seria outro: 24 meses de carência. “Ela começou a me dar esse suporte, pediu uma ajuda ao coordenador dela e fez: ‘olhe, infelizmente, você ainda não pode solicitar nenhuma cirurgia’. Perguntei o porquê e ela falou ‘porque você ainda está no tempo de carência’. Eu falei que já tinha mais de um ano de plano e ela falou 'mas em relação ao caso de mulheres trans, o período de carência é maior, são dois anos'", contou. A informação pegou Leona de surpresa. Mas, como já tinha cerca de um ano e meio de plano ativo, decidiu esperar mais seis meses para dar entrada no procedimento. Leona Catalina conseguiu na Justiça o direito de colocar silicone Reprodução/Instagram A negativa do plano No fim de outubro de 2024, quando completou a carência necessária, Leona enfrentava um período de ritmo intenso no trabalho. Ela só conseguiu voltar a procurar atendimento em janeiro deste ano. De volta à médica, ela foi orientada a fazer uma série de exames, além de apresentar laudos de endocrinologista, psicóloga e psiquiatra. Uma etapa que, segundo ela, não seria um problema, já que fazia acompanhamento regular pelo próprio plano. “Esses três laudos são necessários, são indispensáveis, além do período de plano que de carência que tem que passar. Eu falei, 'oxe, para mim está uma uva'. Porque eu já fazia hormônioterapia com o médico deles e já fazia consulta também, que faço até hoje. Acho que terapia é algo muito importante na vida de uma pessoa”, declarou. Com toda a documentação em mãos, Leona deu entrada no procedimento. Ela e uma médica especialista definiram o tamanho ideal das próteses, e o processo foi iniciado. Leona foi informada de que o convênio daria uma resposta em até sete dias. “Eu não consigo usar um biquíni 'cortininha', eu não consigo usar um vestido com decote 'v', porque sinto aquele negócio reto. Tem outras mulheres trans que não se incomodam, mas eu me incomodo”, contou. A médica pediu que Leona tirasse foto da guia, enviasse no aplicativo do plano e esperasse sete dias para a liberação. Depois disso, ela deveria marcar consulta com a mesma médica para seguir com o proceso. Entretanto, ao fim do prazo, Leona recebeu a negativa. "Quando eu solicitei, recebi a negativa do plano e fiquei sem entender”, disse. O processo Leona foi em busca de respostas junto ao plano de saúde para entender o que havia acontecido. A única resposta que recebeu foi de que o processo tinha sido negado, sem qualquer justificativa. Com a tentativa de esclarecimento em aberto, ela procurou um advogado. "Fiz vários exames e passei por várias consultas para, no final, falarem o mesmo de quando eu não cumpri o período de carência. Aí eu acionei a Justiça. Contratei um advogado e ele entrou com uma ação. Com menos de três meses, o plano de saúde já liberou minha cirurgia", contou. Até o dia da cirurgia, realizada em 31 de outubro, ela e os advogados seguiram acompanhando o processo para garantir que tudo desse certo. Segundo Leona, o advogado alertou que o plano de saúde tentava reverter a decisão judicial. "O plano de saúde botou advogado para dizer que se tratava de questão de estética e, mesmo me mandando uma mensagem formal de que foi liberado, nos bastidores, eles estavam correndo atrás para que o meu processo fosse indeferido", afirmou. A cirurgia Primeira foto de Leona Catalina após cirurgia no Hapvida Ariano Suassuna, no Derby, área Central do Recife Reprodução/Instagram Mesmo com as tentativas do plano de saúde de classificar o procedimento como estético, a Justiça garantiu o direito de Leona realizar o procedimento. Como a última médica que havia atendido Leona tinha se descredenciado do convênio, ela foi encaminhada a outro especialista. Porém, como esse profissional era habilitado apenas em pequenas cirurgias, foi necessário um novo encaminhamento até chegar ao médico que, de fato, realizou o procedimento. "O último, o que realizou meu procedimento, foi doutor Bartolomeu Júnior. Realmente soube me acolher, supereducado. Ele me deu mais de uma hora de atenção. Ali eu estava esperançosa que ele iria realizar minha cirurgia, iria me dar atenção e me dar todas as informações que eu precisava", contou. No dia da operação, Leona se preparou para a realização de um sonho. Seguindo todas as recomendações médicas, ela foi atendida na unidade Ariano Suassuna do Hapvida, localizada no bairro do Derby, área Central do Recife. "Apesar da complicação que tive para conseguir a liberação da minha cirurgia com o setor administrativo, o hospital me acolheu muito bem. Fiquei impactada com a gentileza e educação de todos os colaboradores. Confesso que fiquei até surpresa, pois fui muito bem tratada desde quando entrei no hospital até o momento de receber alta", disse. A conquista da cirurgia representou, para Leona, mais que uma vitória judicial, mas um passo importante no reconhecimento de sua identidade. Com o corpo em harmonia com quem é, ela conta que agora pode vestir roupas que antes permaneciam guardadas. "Tem roupas que eu comprava, mas não usava justamente porque não tinha seio. Tenho um vestido amarelo que tinha comprado justamente para usar quando eu colocasse as próteses. E tem um que ganhei de aniversário da minha patroa, que está guardado há mais de 2 anos, porque é muito aberto. Estou louca para usar", declarou. Antes de estrear as roupas, porém, Leona segue focada na recuperação pós-cirúrgica, conforme orientação médica. "Vou esperar mais de um mês, vou ficar tendo consulta a cada sete dias. Vamos fazer fisioterapia do braço, da coluna, para depois começar a dar os 'closes'. Primeiro eu vou respeitar o processo da recuperação e depois vou usar. Mas confesso que já estou louca para ir para uma praia, para botar um biquíni 'cortininha', para usar vestidos de decote. Estou superanimada", contou. Após a cirurgia, Leona está na expectativa de usar roupas que sonhava vestir com silicone Reprodução/Instagram VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias

FONTE: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2025/11/08/mulher-trans-consegue-na-justica-direito-de-colocar-silicone-pelo-plano-de-saude-espelho-agora-e-meu-melhor-amigo.ghtml


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